Estava passando pelos vagões, quando um rapaz me chamou atenção. Ele estava sentado sozinho na poltrona e lendo um livro, ao passo que realizava anotações em seu caderno sobre a mesa. Seu rosto era de um semblante angelical, tranquilo e quieto, com olhos claros envoltos à leitura, de uma aparência tão jovial que quase me remetia a de um estudioso prodígio. Ao sentir minha presença, interrompeu sua leitura, e automaticamente me esquivei, seguindo caminho até o toalete.
Chegando lá, joguei minhas roupas sobre o balcão. Havia um pequeno local de banho com dois chuveiros apenas, que estavam vazios. Comecei a me ensaboar, e a visão daquele rapaz não me saíra da cabeça. O que deveria estar lendo? Para onde seus pensamentos o levavam?
Não demorou muito, até que o barulho de uma porta se abrindo ecoou pelo recinto. Alguém o adentrara e, como os chuveiros ficavam de frente para a pia e o espelho, me virei de costas, a fim de evitar constrangimentos. A pessoa estava de costas para mim, pelo visto estava ali só lavar as mãos e o rosto. Foi quando me virei disfarçadamente para ver quem era: o jovem leitor. Notei que ele olhava discretamente meu reflexo pelo espelho, como se estivesse ansiando por algo. Não resisti e logo virei de frente para o espelho, como que distraidamente. Foi quando ele parou de espiar de momento, passando a fixar o olhar num ângulo específico, que mirava diretamente meu pinto. Ao perceber isso, senti um tesão que foi me deixando duro. Isso deixou seus olhos ainda mais claros e arregalados, suas bochechas rosadas e levemente boquiaberto. Ele não se conteve, e acabou se retirando.
– Pôxa, espero não ter criado uma situação chata…
Continuei meu banho de pau duro mesmo. Não conseguia deixar de pensar na situação que acabara de acontecer em minha primeira viagem de trem.
